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Devagar com o andor. Quem cresceu e venceu foi Lula

Sensação de derrota da esquerda veio do que previam as pesquisas, que acertaram no percentual de votos em Lula, mas erraram na previsão da votação de Bolsonaro

Julio Miragaya

Terça - 04/10/2022 às 20:10



Foto: Print do vídeo Lula em pronunciamento sobre o segundo turno
Lula em pronunciamento sobre o segundo turno

Júlio Miragaya (*)

Às vezes, as análises eleitorais costumam ser feitas eivadas de emoção ou de expectativas frustradas, e carecem de objetividade. É o caso do 1º turno da eleição presidencial deste ano, em que alguns analistas “de botequim” chegaram a enxergar uma vitória “moral” de Bolsonaro.

Vamos,então,aos fatos: Lula obteve 57,3 milhões de votos (6,2 milhões a mais do que Bolsonaro (51,1 milhões). Bolsonaro, líder inconteste da direita brasileira, viu seu eleitorado crescer 3,64% em relação a 2018, quando obteve 49,3 milhões de votos. Ou seja, 1,8 milhão a mais.

Ocorre que os votos válidos cresceram 10,44% (de 107,0 milhões para 118,2 milhões). O que cresceu muito (82,68% em relação a 2018)foram os votos no candidato do PT. Haddad obteve 31,2 milhões de votos em 2018 e Lula amealhou 57,3 milhões agora, ampliando em 26 milhões o seu eleitorado.

Para o 2º turno, o que estará em disputa? Foram 32,77 milhões de abstenções (20,9% do eleitorado), percentual muito próximo dos 19,4% de 2014 e dos 20,3% de 2018. Aabstenção se distribui uniformemente pelo território nacional, e não é daí que advirão alterações substantivas.

Foram 5,45 milhões de votos nulos e em branco, muito abaixo dos 11,1 milhões de 2014 e dos 10,3 milhões de 2018. Também não será daí que virá qualquer virada. O que pode alterar o resultado final são os 9,9 milhões de votos conferidos aos outros 9 candidatos. E como se distribuíram esses votos?

Nada menos que 86% deles (8,5 milhões) foram conferidos a Simone Tebet e Ciro Gomes. A despeito das rusgas de campanha, são candidatos mais próximos de Lula do que da extrema-direita. A emedebista vem de um enfrentamento feroz contra Bolsonaro na CPI da covid no Senado e Ciro é do PDT, aliado histórico do PT.

Tudo leva a crer que MDB e PDT declararão voto em Lula, assim como Simone. E, espera-se, Ciro. Já o 1,25 milhão de votos dados a D’Ávila, Soraya e Kelmon tendem a ir para Bolsonaro. Há ainda 150 mil votos a candidatos de partidos nanicos, de extrema esquerda. Em suma, não havendo maiores surpresas, como uma inesperada, forte e direcionada redução das abstenções, é de se prever que Lula amplie sua vantagem para algo entre 8 e 10 milhões de votos.

E de onde veio,então, a tal sensação de derrota da esquerda entoada por alguns analistas? Veio do que previam as pesquisas. Ora, as pesquisas acertaram no percentual de votos em Lula, oscilando entre 48% e 51% (Lula obteve 48,45%).

Erraram feio foi no percentual atribuído a Bolsonaro (oscilava entre 38% e 41% e obteve 43,2%. Tal diferença decorreu, sobretudo, do erro na expectativa de voto nos três grandes colégios da região Sudeste, provavelmente de eleitores conservadores, insatisfeitos com o governo, que na “hora H”, tomados pelo antipetismo, decidiram votar em Bolsonaro, como em 2018.

De todo modo, Bolsonaro caiu nos três estados: em São Paulo, de 53% para 47,7%; no Rio, de 59,8% para 51,1%; e, em Minas, de 48,3% para 43,6%. Já o candidato do PT subiu em todos: em São Paulo, de 16,4% para 40,9%; no Rio, de 14,7% para 40,7%; e em Minas, de 27,6% para 48,2%.

Eram previsíveis as vantagens de Bolsonaro nas conservadoras regiões Sul (3,1 milhões de votos) e Centro-Oeste (1,4 milhão), em que o agronegócio tem forte presença. Como também eram previsíveis a pequena vantagem de Lula na região Norte (200 mil votos) e a ampla vantagem no Nordeste (13,9 milhões de votos).

Já no Sudeste, a vantagem de 2,4 milhões a favor de Bolsonaro pode até ser revertida no 2º turno, caso o PT e o PSDB negociem acordo em São Paulo e Rio Grande do Sul.O 1,7 milhão de votos de Edegar (PT) são mais que suficientes para tirar a diferença de 680 mil votos que separou Leite (PSDB) do bolsonarista Onix, assim como os 4,3 milhões de votos de Garcia (PSDB) são suficientes para tirar a diferença de 1,54 milhão de votos que separou Haddad (PT) do bolsonarista Tarcísio. A conferir.

Portanto, devagar com o andor que o santo é de barro!

(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia

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