Brasil

Impeachment de Dilma cria precedente perigoso para o Brasil, diz Oliver Stone

Quando há um golpe político como o que houve no Brasil, por uma questão relativamente menor, você não colhe nenhum benefício

Quinta - 27/10/2016 às 16:10



Foto: Evaristo Sá/AFP Presidente Dilma Rousseff
Presidente Dilma Rousseff

"Quando há um golpe político como o que houve no Brasil, por uma questão relativamente menor, você não colhe nenhum benefício”, afirmou.

"Logo que você abre esse precedente e retrocede a um tipo de pensamento político totalmente diferente, você cria um precedente perigoso para o futuro", acrescentou.

Stone conversou com a BBC Brasil durante o último Festival de Cinema de Zurique, onde promoveu seu novo filme, Snowden ─ Herói ou Traidor, que estreia no Brasil no mês que vem.

No longa, o diretor recria o momento em que o ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança Americana (NSA, na sigla em inglês) se apresenta aos repórteres do jornal britânico The Guardian em Hong Kong, na China, e revela detalhes da espionagem utilizada pelo governo americano.

O filme dramatiza também a história de como o americano, anteriormente um republicano patriota que se alistou para lutar na guerra do Iraque, se voltou contra o governo. Edward Snowden é vivido pelo ator Joseph Gordon-Levitt.

Censura

Aos 70 anos, o diretor - que é famoso por filmes políticos, como a trilogia sobre JFK, George W. Bush e Nixon, além de vários documentários sobre ícones da esquerda latino-americana, como Hugo Chávez e Fidel Castro - defendeu o papel de denunciantes como Snowden.

"Denunciantes de uma forma geral são importantes para uma sociedade saudável. Eles geralmente não se dão bem e as penalidades contra eles são muito severas", assinalou.

"Um caso famoso foi o denunciante da indústria do tabaco. Foi por causa dele que as pessoas finalmente acordaram para o mal do tabaco e da sua indústria corrupta", disse Stone.

O diretor também falou sobre a dificuldade de fazer seu filme sobre o ex-funcionário da NSA.

"Fazer este filme foi um drama tão grande quanto o retratado pelo filme", explicou.

"Eu acho que há um fator de medo de censura do governo no momento. E acho que muitas empresas não quiseram patrocinar o filme ou não quiseram estar envolvidas com ele por que o longa destaca uma figura controversa como o Snowden", acrescentou.

Abalo diplomático

As revelações de Edward Snowden, em 2012, revelaram a espionagem que a NSA fez em emails e telefonemas da ex-presidente Dilma Rousseff, causando mal-estar diplomático entre o Brasil e EUA na época. Dilma chegou a cancelar uma visita de Estado que faria aos EUA naquele ano.

"Snowden mostrou como o governo americano pode ser perigoso sendo seu aliado. Eles se declararam aliados do Brasil, mas têm vigiado a Petrobras e participaram de espionagem industrial pelo mundo. A Petrobras é uma companhia gigantesca e o governo americano está muito interessado", disse ele.

Sobre o impeachment, o cineasta criticou as classes dominantes no Brasil.

"Há uma certa classe que vive no Brasil que continua a mesma, arrogante. Eles acham que são donos do mundo e que têm o direito de fazer o que quiserem com o povo, ou que o povo não sabe nada", afirmou.

"Não sou um especialista em assuntos brasileiros. No Brasil, Lula foi bem sucedido e popular. E, aparentemente, Dilma não foi uma boa presidente", ressalvou. "Ela cometeu erros na condução de seu mandato."

Sul da Fronteira

Stone conheceu o ex-presidente Lula pessoalmente, entre outros líderes da América Latina, durante as gravações do documentário Ao Sul da Fronteira (2009), sobre os líderes políticos da região.

Questionado sobre a situação do petista, que se tornou réu pela segunda vez na Lava Jato, após o juiz federal Sergio Moro aceitar denúncia do Ministério Público Federal, o cineasta afirmou que "qualquer coisa pode acontecer".

"Lula é um homem inteligente e gentil e com sorte ele vai evitar tudo isso. Mas eu não sei quais são as novas regras no Brasil no momento. Aparentemente qualquer coisa pode acontecer", disse.

Fonte: BBC Brasil

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