Comerciantes fecham as portas em luto

Uma das ruas mais importantes de comércio de Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul, a


Bandeiras a meio mastro em Santa Maria (RS)

Bandeiras a meio mastro em Santa Maria (RS) Foto: Paulo Toledo Piza/G1

 Uma das ruas mais importantes de comércio de Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul, a Rua do Acampamento tinha 18 lojas fechadas em quatro quarteirões. O motivo estava descrito em faixas, adesivos ou em apenas papéis afixados nas portas: luto.

A palavra, pouco usada pelos moradores da pacata cidade até o fatídico domingo, 27 de janeiro, quando um incêndio em uma boate intitulada Kiss vitimou centenas de pessoa, a maioria jovem. “Essa data é o nosso 11 de setembro”, disse o vigilante Rogério Moreira, de 47 anos. Tida pela população como um município alegre, que ganhava muito com a convivência com os estudantes da Universidade Federal lá instalada, nos últimos dias o cenário nas ruas é bem diferente.

Se em todo o Brasil o incêndio que vitimou 231 pessoas é comentado em rodas de amigos, na cidade palco da tragédia o assunto, invariavelmente, virá à tona. E com ele, a palavra luto. “A gente usava essa palavra só quando um parente morria. Era bem pessoal. Agora, é em todo o lugar. Não tem como mudar mais”, disse Moreira. O vigilante completou 47 anos nesta segunda-feira (28), mas disse que não comemorou a data. “Não perdi parente, mas conheço quem perdeu um filho. A dor é igual. Não tenho motivo para celebrar.”

O luto era visto não apenas nas palavras espalhadas nas fachadas de casas e lojas, mas nas faixas negras penduradas nos batentes das casas, nas bandeiras a meio mastro e no semblante da população.

No campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a reitoria decretou luto de sete dias. Todas as atividades acadêmicas foram suspensas em memória das vítimas, em especial em homenagem aos mais de cem estudantes que estavam na boate. “Esse luto é para a vida inteira”, disse ao G1 o reitor da UFSM, Felipe Martins Müller.

O sentimento que predominava na universidade era a tristeza. Nesta segunda, funcionários com os olhos marejados se abraçavam tentando entender o que aconteceu. Alguns chegaram atrasados ou faltaram para ir ao enterro de amigos. No maior cemitério da cidade, a previsão era de que ao menos 80 enterros fossem feitos em dois dias. O movimento na necrópole era tamanho que mais parecia dia de finados.

Outros usavam o trabalho para tentar aplacar a dor. Em vão. “Lembro da gurizada entrando nesse portão. E o pior é que um colega nosso estava na boate e não voltou”, lamentou um guarda universitário. O reitor usa da mitologia para buscar forças e esperança. “Temos que ser como uma fênix e renascer das cinzas.”

Após enterrar um primo, a mulher dele e sua cunhada, o comerciante Adriano Rodrigues, de 41 anos, tentava ver o lado bom. “Meu filho tem 22 anos e estava num casamento, não na balada”, disse. “Aqui era uma cidade feliz. Agora acho que a tristeza vai ser para sempre.”

Fonte: G1

Siga nas redes sociais
Mais conteúdo sobre:
Próxima notícia

Dê sua opinião: