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Embrapa: Piauí luta para produzir mais mel

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Quarta - 04/06/2014 às 14:06



O Piauí pode avançar mais ainda na produção de mel em 2014, voltando a ocupar uma posição de destaque no mercado internacional, perdida em 2013 devido à seca. A Casa Apis, a maior central de cooperativas apícolas do estado, está prevendo receber dos associados pelo menos 700 toneladas de mel. A Comapi – Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes é mais otimista. Prevê uma produção de 950 toneladas. O faturamento total deve alcançar 6 milhões de dólares. Os Estados Unidos são o principal destino do produto.

Nos últimos quatro anos, o estado tem enfrentado variações na produção que o derrubaram da terceira para a oitava posição. Em 2013, a produção piauiense de mel computada apenas pela Casa Apis e a Comapi chegou a 493 toneladas. Os números oficiais só serão divulgados pelo IBGE no segundo semestre deste ano.

Mas voltando no tempo, a produção de 2011, que colocava o Piauí na linha de frente, alcançou a marca de 5.108 toneladas, segundo o IBGE. O Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina permanecem nas três primeiras colocações na produção de mel do País, respectivamente. Os estados do Amazonas, Amapá e Acre estão nas últimas posições.

O Piauí tem um ambiente favorável para continuar crescendo na produção de mel. A flora nativa e diversificada em todas as regiões é apontada por apicultores e pesquisadores da Embrapa Meio-Norte como um grande trunfo. Paulo José da Silva, de 33 anos, gerente da Comapi, destaca a variação de floradas de norte a sul do estado, durante todo o ano, como o ponto de equilíbrio na atividade.

“Com esse ambiente, o apicultor tem condições de migrar internamente com suas colmeias, tendo um menor custo”, avalia Paulo José. O diretor-geral da Casa Apis, Antônio Leopoldino Dantas Filho, o Sitonho Filho, de 55 anos, tem a mesma opinião: “Temos uma flora abundante em todo o estado . O que precisamos é vencer a pobreza na região semiárida, através da qualificação do produtor”.

A pesquisadora Maria Teresa Rêgo, do grupo de pesquisas com abelhas da Embrapa Meio-Norte, vai mais além. Segundo ela, o estado reúne as características de clima e flora muito favoráveis à atividade apícola. “A produção de mel do Estado é baseada na flora nativa, que é rica e diversificada, propiciando a produção de méis com caracteristicas diferenciadas,” destacou.

Maria Teresa lembrou de um ponto que eleva ainda mais as condições favoráveis do Piauí à produção de mel: a sustentabilidade. As floradas das espécies nativas, de acordo com a pesquisadora, “são livres de agrotóxicos, propiciando um mel puro, livre de resíduos de produtos químicos, o que favorece a produção de mel orgânico”. A flora piauiense é rica em espécies importantes como marmeleiro, mofumbo, angico-de-bezerro, bamburral, jurema e jitirana.

Além da generosidade da natureza, os apicultores piauienses ganharam outro presente. O CENTAPI – Centro Tecnológico em Agronegócios Familiares do Piauí, envolvendo a cadeia produtiva da apicultura. Construído ao lado da Casa Apis, no bairro Pedrinhas, no município de Picos, a 307 quilômetros de Teresina, na região sudeste, o centro tem uma estrutura moderna e vai focar o ensino da apicultura e a preparação do produtor para o mercado.

A cajucultura, caprinocultura e mandiocultura também vão estar no dia-a-dia dos pequenos agricultores da região, nas atividades do centro tecnológico, segundo Sitonho Filho. A obra custou R$ 1,5 milhão, recursos repassados pelos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Integração Nacional, além do Governo do Piauí. O CENTAPI é estrutura em três módulos, com salas de treinamento, laboratórios e salas de beneficiamento de mel e cera.

A força do cooperativismo

O cooperativismo na atividade apícola do Piauí ganhou força em 2005, com a criação da Casa Apis, que revolucionou o setor como uma organização social de base produtiva. Ela nasceu com o apoio de entidades como a Fundação Banco do Brasil, BNDES, Governo do Piauí, Sebrae, Codevasf, Agência Internacional da Holanda, Unitrabalho e Unisol – Organização das Cooperativas e Empreendimentos Solidários.

Nove anos depois, a Casa Apis reúne oito cooperativas no Piauí, com 960 famílias de pequenos apicultores associadas, e mais uma cooperativa do município de Barbalha, no Cariri cearense, a 553 quilômetros de Fortaleza. A central tem hoje 50 mil colmeias. Usando tecnologias de ponta no processamento e embalagem do mel, ela foi a primeira central de cooperativas apícolas a elaborar planos de negócio e marketing para o mel no Brasil.

Mais adiante, a 100 quilômetros de Picos, os apicultores do município de Simplício Mendes chegaram à conclusão de que era a hora da virada. Em 2007, seguindo o voo da Casa Apis, eles criaram a Comapi, que hoje tem 1.200 famílias associadas em 42 comunidades de 10 municípios. Cem por cento do mel produzido pela cooperativa é exportado para os Estados Unidos, através do porto do Pecem, na região metropolitana de Fortaleza.

Seca e agrotóxicos, inimigos das abelhas

Seca e agrotóxicos são dois fortes agentes exterminadores das abelhas. A estiagem, que no nordeste brasileiro é cíclica, extermina as abelhas de forma gradual. Primeiro, reduz ao extremo a oferta de alimentos. Em seguida, estressa os animais. Por último, vai direto ao ponto: mata e reduz os enxames a números assustadores.

A consequência da seca às floras nativa e cultivada são desastrosas. “Elas perdem espécies importantes, já que as abelhas são responsáveis pela polinização – reprodução das plantas -. Com isso, falta frutos e sementes, fundamentais à alimentação humana e animal”, destaca a pesquisadora Fábia Pereira, do Grupo de Pesquisa com Abelhas da Embrapa Meio-Norte.

Com as constantes mudanças climáticas, o mundo acompanha a proliferação de pragas, como a Helicoverpa armígera, a conhecida “Come-tudo”, que vem arrasando culturas importantes, como soja, milho e feijão, de norte a sul do País. Para enfrentar o ataque de pragas como essa, muitos produtores rurais são obrigados a usar indiscriminadamente agrotóxicos.

E com eles vêm os efeitos exterminadores das abelhas. O letal, mata as abelhas imediatamente. O subletal é um efeito mais lento. Contaminada, a abelha volta à colmeia com o veneno e então repassa para as outras. O final é previsível: toda a colmeia é envenenada e, consequentemente, as abelhas morrem.

Para evitar o uso indiscriminado de agrotóxicos, Fábia Pereira recomenda o manejo integrado de pragas, com destaque para o controle biológico. No caso da seca, a pesquisa estuda manejos adequados para o enfretamento do problema, como alimentação no período da entressafra; sombreamento das colônias de abelhas; e defesa dos inimigos naturais, como as formigas.

Fonte: embrapa

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