Estudante piauiense é assassinado no DF

Piauí Hoje


Os assassinos se aproximaram como amigos. Tentaram, de início, conquistar a confiança dos cinco meninos da QR 321 de Samambaia que curtiam as férias jogando bola e chupando mangas próximo de chácaras às margens da BR-060, que liga Brasília a Goiânia. O quinteto não conhecia aqueles dois rapazes, mas topou descer com eles em direção ao córrego entre Samambaia e Recanto das Emas. Sem saber, os garotos de 10 a 15 anos eram atraídos para o pior. A dupla convenceu as vítimas a chegarem a pontos ainda mais desertos da mata fechada e íngreme, com o argumento de que os levariam a lugares onde era melhor para mergulhar.Em certo momento, por volta das 13h de quinta-feira, um dos rapazes mostrou uma faca e a pôs rente ao pescoço de um dos garotos. Avisou aos outros quatro da turma que, se corressem, o amigo morreria. Obrigados a deitar de bruços no chão pedregoso, cada um dos cinco meninos levou golpes de faca na nuca. Dois foram encontrados mortos. Um deles estava de cueca. Pelo menos um dos três sobreviventes, que não correm risco de morrer, traz no corpo leves pontadas da faca e, na testa, uma marca em forma de "x", feita com a lâmina do objeto perfurante. De acordo com relato de um dos sobreviventes, os assassinos fugiram com uma bermuda e uma sandália.A polícia tem dois suspeitos de terem cometido o crime. Segundo o delegado Alexandre Nogueira, chefe da 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas), falta pouco para prendê-los. Os mandados de prisão, prevê ele, devem ser expedidos na próxima semana. O delegado disse ontem que não há indícios de acerto de contas de traficantes ou briga entre gangues, mas não entrou detalhes sobre a investigação. "Estamos investigando o crime de homicídio, porque haviam dois corpos no local", disse. Na quadra onde as famílias das vítimas moram, vizinhos sustentam eles eram meninos que apenas estudavam e brincavam. Nenhum deles tinha passagem pela polícia.Entre os cinco amigos, havia dois irmãos. O mais velho, de 15 anos, morreu depois de tentar se levantar para fugir duas vezes. O de 14, completados ontem, contou à mãe que não pôde fazer nada para salvar o irmão. O adolescente está internado no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). "Ele me disse que falou assim: \'Não sai daqui, não morre, agüenta que eu vou buscar ajuda\'", relatou a mãe, aos prantos. A família quer voltar para Parnaíba (PI), onde o corpo do filho mais velho será enterrado. "É uma dor muito grande. Por quê aconteceu isso? Por quê tanta maldade", repetia a mãe, ao ser consolada por uma irmã.Pedido de ajudaDepois de esfaqueados, os três sobreviventes correram, sangrando, até um posto de gasolina na BR-060. Pediram ajuda. Mas não dava mais tempo de salvar os amigos. O outro adolescente assassinado (Dalton José de Amaral Júnior) tinha 14 anos e morava com os pais e as duas irmãs na casa onde estava ajudando a rebocar a parede. O garoto era conhecido por gostar de trabalhar. "Ele pedia dinheiro para capinar o quintal das casas, trocar lâmpada, tirar o entulho", contou uma vizinha. "Na escola, ele sempre pedia para ajudar a lavar os banheiros", disse a diretora Ila Soares, que visitou a família na manhã de ontem. A avó, desolada, informou que o neto será enterrado em Santa Rita de Cássia, na Bahia. "A gente queria ele aqui, só isso", disse ela, pedindo sossego aos vizinhos que se amontoavam em frente à casa.Quando não estavam na escola, os cinco amigos da QR 321 gastavam as horas do dia brincando. Todos na quadra os conhecem de vê-los soltando pipa, jogando bola ou entrando nas lan houses para se divertir. Vez ou outra, contam os vizinhos, o grupo ia mais longe. Caminhava cerca de 3km até chegar às proximidades do córrego, local onde foram abordados na última quinta-feira. Iam até lá na intenção de se banhar, chupar mangas e conseguir pedaços de bambu para fazer as próprias pipas. "Se soubesse que eles iam para lá com freqüência, eu não deixaria", afirmou a irmã mais velha de um dos sobreviventes.Região perigosaA região do córrego é considerada perigosa. Os moradores da QR 321 contam que o local é freqüentado por gente armada e que usa e trafica drogas. "Há dois meses, meu filho chegou apavorado de lá. Disse que uns meninos com arma botaram ele e os colegas para correr", relatou uma dona-de-casa de 35 anos que, com medo, pediu para não ser identificada. "Já voltei sem roupa dali umas duas vezes porque me roubaram", disse o carroceiro David Santana, 26 anos. "Os homens que ficam por lá acham que são donos do espaço e não deixam ninguém chegar perto", completou um adolescente de 15 anos, amigo de uma das vítimas.Agentes da 27ª DP saíram às ruas do Recanto das Emas em carros disfarçados várias vezes durante o dia de ontem, à procura de suspeitos. Em um dos retornos, dois policiais sentados nos bancos da frente voltaram acompanhados de duas pessoas no banco de trás do carro. Quando viram jornalistas na delegacia, fecharam os vidros escurecidos e desembarcaram nos fundos da unidade policial, longe dos repórteres e cinegrafistas. Os agentes esperam os três sobreviventes receberem alta do hospital para ouvi-los e elaborar o retrato falado dos criminosos.

Fonte: Correioweb

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