"Há reflexos do punk na 'uberização do mundo'", diz Marcelo Rubens Paiva


Clemente e Marcelo Rubens Paiva durante lançamento do livro

Clemente e Marcelo Rubens Paiva durante lançamento do livro "Meninos em Fúria" Foto: UOL

Em 1982, Marcelo Rubens Paiva, que lançava o best-seller "Feliz Ano Velho", se encontrava com Clemente Tadeu Nascimento, líder da banda punk Inocentes, no festival O Começo do Fim do Mundo, realizado no Sesc Pompeia. Assim nascia uma amizade que já dura quase 35 anos e que acaba de render uma parceria literária, o livro "Meninos em Fúria".

Por meio da trajetória dos dois autores pela década de 1980, o livro defende a tese de que, assim como nas grandes metrópoles do mundo, caso de Londres e Nova York, também houve em São Paulo um movimento jovem de periferia que jamais se repetiria com a mesma contundência, mas que deixaria marcas profundas na cultura atual. E que parecia muito mais divertido viver naqueles anos em que as barreiras sociais pareciam, de certo modo, serem derrubadas em casas noturnas, que mais pareciam inferninhos, localizadas em grande maioria na região central da cidade.
           
Outro aspecto que uniu essa geração foi o lema punk "do it yourself" ("faça você mesmo"), que tornava possível que qualquer jovem, mesmo com pouca ou nenhuma habilidade, passasse a atuar na área de interesse. Portanto, quem queria fazer teatro, subia no palco; quem queria ter uma banda, descolava uma guitarra, um amplificador, um baixo e uma bateria, e mandava seu som de apenas três acordes; quem queria escrever, tratava de colocar no papel de livros, jornais ou revistas suas impressões sobre a vida.

Esse lema foi tão determinante que seus reflexos, segundo Marcelo Rubens Paiva, ainda são sentidos na sociedade atual, por exemplo, na existência da internet e do Uber. "Já ouvi outros intelectuais falarem que, se você pensar na geração que fez e consolidou a internet, é a mesma que nasceu ouvindo Ramones, Sex Pistols e Clash, e esse espírito do faça você mesmo defende que você seja o dono do seu canal, da sua gravadora, seja o fotógrafo, o colunista e dono do seu canal. Ou seja, não dependia da indústria para você ir atrás de uma forma de se expressar", afirma.

Marcelo lembra que o lema servia originalmente para meninos sem condições financeiras, como Clemente, formarem suas bandas e não esperarem gravadoras os contratarem. "Na internet, é muito parecido, com os Youtubers, os bloggers, pessoas que fazem livros sem esperar um grande mercado atrás deles", acrescenta. O Uber, para ele, é uma espécie de movimento punk na construção de algo em que cada pessoa é o próprio motorista, sem precisar de licenças, com a diferença de que, neste caso, há uma empresa capitalista comandando. Outro exemplo são as start-ups, dentro de um universo conhecido como economia criativa em que as pessoas são donas de seus próprios negócios e compartilham escritórios com outros autônomos.

Fonte: UOL

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