Política

Lourdes Melo condena a "ditadura" da Justiça Eleitoral

A candidata a prefeita pelo Partido da Causa Operária reclama do excesso de normas impostas pelo TSE

Terça - 20/09/2016 às 09:09



Foto: Michelly Sâmia Candidata Lourdes Melo concede entrevista ao Portal Piauihoje.com
Candidata Lourdes Melo concede entrevista ao Portal Piauihoje.com

Candidata mais uma vez à prefeitura de Teresina, a professora Lourdes Melo falou ao portal Piauihoje.com sobre propostas e conjuntura local e nacional. Em ano eleitoral fortemente atingido pelo impeachment presidencial, uma série de questões mobilizam os bastidores políticos e a candidata resgata questões trabalhistas e de educação nesse momento de crise, inclusive ética. Lourdes Melo defende as bandeiras do Partido da Causa Operária (PCO). Ela foi entrevistada pelos jornalistas Cíntia Lucas e Roberto Araujo.

Piauihoje: Vamos enfocar mais nas suas propostas de campanha. Como a gente sabe que a senhora é uma mulher ligada à educação, é professora, gostaríamos de saber sua proposta para a educação.

Lourdes Melo: Nós do PCO, Partido da Causa Operária, temos as propostas centrais. As nossas propostas, às vezes a gente até pula por cima de esmiuçar detalhadamente. No geral mesmo, participamos das eleições para esmiuçar as nossas propostas. Nós somos um partido que somos marxistas, defendemos o socialismo, e nós entendemos que não tem como a gente administrar o capitalismo. Nós não queremos fazer um conserto dentro do capitalismo, remediar o capitalismo, porque não tem saída. Cada vez mais se acirra o sofrimento da humanidade, da população de um modo geral e a gente não vem para fazer propostas que venham reformar ou propostas paliativas, a gente procura tratar da questão geral mesmo. As nossas propostas são, de fato, reivindicações. Tanto fora da eleição como na eleição. A luta a gente faz tanto fora do período eleitoral como dentro da eleição. Você falou da educação, as nossas propostas da educação elas estão atualmente prejudicadas. Porque o governo golpista, governo Temer, está atacando o direito dos trabalhadores, o direito a educação de forma tão rápida que aquilo que construímos em 30 anos ele tá destruindo em poucos meses. Cortando recursos, retirando direitos, e com isso a gente procura focalizar o combate ao golpe. Porque se a gente fosse considerar que estamos numa ilha, num grupo de candidatos, professores, estudantes, que não vamos ver a questão internacional e nacional de ataques à educação, era como se a gente ficasse fora da realidade. E a realidade é essa.

Quais as suas propostas, candidata, para administrar a prefeitura de Teresina?

Na nossa campanha, mesmo enquanto trabalhadoras da educação, nós temos a proposta de defender o piso de 5 mil reais para os professores. Isso temos que levar em consideração que é um piso rebaixado se comparar aos profissionais de nível superior. Sabemos ainda que a profissão de professor ela é muito dura, tem uma jornada de trabalho pesada. Quando você está numa jornada de um turno, que é 20 horas semanais, você não relaxa nenhum momento. Você lida com pessoas, com crianças, com a diversidade, e nós defendemos que essa jornada seja reduzida para um turno, um turno você fica para sala de aula e no outro turno, você fica para preparar sua aula. Tem gente que acha que é uma coisa difícil de conseguir, e não é. Os professores da Universidade Federal trabalham nesse regime. De 20 horas na sala de aula, e as outras são para preparar, pesquisar, e elaborar suas aulas. E também em relação a situação do estudante em si. A gente vê que a educação hoje é um funil. E a nossa luta é pelo fim do vestibular. Nós achamos que essa peneira faz com que alunos fiquem fora das universidades, por várias razões, mas a maior é essa, é o crivo, muita gente se dedica, passa a noite estudando, se aperfeiçoa, e termina ficando de fora. Aí, são obrigadas a irem paras as escolas particulares. A gente entende que hoje a educação superior é maior no ensino particular. Nós defendemos que sejam estatizadas todas as escolas particulares, para que tenha só uma educação, uma educação igual para todo mundo. E que o governo deixe de injetar dinheiro público para escolas particulares, tanto a nível do ensino básico como de ensino superior, porque se a escola não tem condição de se manter, então o governo assume. Lucro é que não pode ter, as empresas não podem ter lucro com educação. E quanto ao vestibular, os estudantes precisam ter a possibilidade de acesso garantido nas universidades. E para isso é preciso ampliar vagas, criando universidade públicas. E outra questão, hoje nas escolas públicas, universidades, os estudantes fazem um papel de apenas receber as decisões das reitorias, e nós defendemos um governo, nas universidades, tripartite, é uma eleição de fachada, depois ele é conivente com o governo, então defendemos uma gestão tripartide, onde tenham professores, funcionários e estudantes. Então, esse é um plano de lutas, que é uma luta que tem que se organizar e fortalecer cada vez mais.

Por que se candidatar a prefeita de Teresina? Qual o seu maior objetivo com essa candidatura, já que vencer a eleição é pouco provável?

Eu não sou candidata que represento Lourdes Melo. Nós, sozinhas, somos frágeis. O que nos mantêm enquanto pessoas na sociedade são as nossas idéias. E nós representamos o programa do PCO, Partido da Causa Operária, nós representamos na eleição o partido, que tem como meta ocupar todos os espaços de luta. E nesse momento das eleições é propício para a gente estar participando, porque estamos tendo discussão sobre eleição, política, e tem visibilidade. Se não tivesse eleição, eu não estaria conversando com vocês aqui. E nos espaços que temos, chamamos os trabalhadores para se juntarem a nós porque a revolução que a gente defende, a derrubada da sociedade capitalista pela juventude e trabalhadores só se dá com a formação de consciência. E assim que a gente chama os estudantes para se unir com a gente no PCO, com as bandeiras de luta, pelas reivindicações imediatas, que no momento estão prejudicadas pela conjuntura de ataques aos direitos do governo golpista.

Por que esse modelo de gestão do PSDB, com o prefeito Firmino Filho, Silvio Mendes, está há tanto tempo no poder e se mantém?

A política não é estática, ela tem uma história. O Firmino entrou representando um segmento do PMDB que, na época, quando eles começaram, estava na frente da prefeitura o PMDB, e depois se transformou em PSDB. Estávamos saindo de uma Ditadura Militar, e o PMDB deixou um nome para a cidade, para os trabalhadores daqui, e assumiu o PSDB, e essa corrente é enraizada. Eles usam do poderio, da máquina, para ganhar as eleições. É muito dinheiro que está em jogo. São os empresários das construções, das empresas de ônibus, que dão sustentação a essa prefeitura. E como estávamos falando da educação, eu tenho participado tanto como trabalhadora, como militante do partido e sindicato. Quando o PSDB entrou na prefeitura, em Teresina existiam 25 creches. Não é o ensino infantil, que eles querem confundir. Creches mesmo eram 25 de ensino integral. Funcionavam com precariedade, mas funcionavam, existia aquela possibilidade de funcionamento. E o que o prefeito fez? Quando ele entrou, ele fechou quase todas as creches. Ficaram pouquíssimas creches funcionando. Mas ele faz a propaganda hoje que ele está construindo creches e não é verdade. A maioria foi fechada. Devem ter ficados três a cinco creches. E agora, com o programa da presidenta Dilma, foram criadas duas creches aqui em Teresina, com projetos muito bonitos, e eles tiraram proveito disso. E na verdade até o ano passado também, além de não ter as creches, ampliado como foi criado agora, o prefeito baixou uma portaria suspendendo as matrículas de crianças de zero a três anos. E essa matrícula não foi ampliada. Sabe como é o político maquiavélico, uma gotinha aqui e outra ali para fazer propaganda. E ele tá iludindo a população. Tem muito marketing, dinheiro, pressão nos locais de trabalho. E ele se mantem com marketing muito forte, e ele se passa como prefeito de boa administração. E recebeu inclusive o título de Prefeito Criança, e na verdade é um Prefeito “Crionça”, porque as crianças passam muitas necessidades. Ele fechou as creches e ele fechou quatro escolas de tempo integral. Eu trabalhei numa escola que ele fechou. Eram quatro escolas feitas ainda no tempo do governo PMDBista do Wall Ferraz. Escolão do Mocambinho, Parque Piauí, Parque Itararé e no Eurípedes Aguiar, no Marquês. A escola que eu trabalhava no Parque Piauí era uma escola completa. Para o seu funcionamento, tinha atendimento às crianças o dia inteiro, com aula de música, de teatro, de marcenaria, de horticultura, tinha até uma rádio lá, que era um projeto pioneiro. Tinha uma alimentação balanceada muito boa, com nutricionista, e isso o prefeito Firmino, junto com o secretário de educação Kléber Montezuma, fechou esse projeto muito bom que funcionava. E isso não é dito, é acobertado.  As escolas que eles fecharam hoje funcionam com muitas dificuldades como as outras escolas

Como você vê o papel da Câmara de Vereadores, que deveria fiscalizar o Executivo?

O sistema capitalista conta com várias instituições que fazem parte do funcionamento do Estado. É o caso da prefeitura, tem os vereadores que são aliados do próprio prefeito, ele sempre administra com maioria na câmara. Assim também é o governo estadual e federal. A presidenta Dilma foi derrotada por causa das alianças que fez, e o parlamento deu um golpe nele de forma muito covarde, traíram mesmo a confiança da própria presidenta. E não foram só os deputados, o golpe foi dado com o Ministério Público, o judiciário, a Polícia Federal e a mídia. A imprensa golpista teve o papel de preparar o terreno, de massificar a ideia contra a presidenta e contra o PT. E a PF conspirou contra a própria presidenta. Ela tem um papel no estado burguês de trabalhar para a própria presidência e, nesse caso, ela investigou, denunciou, colocou escuta contra a presidência e deram um golpe. E assim, os vereadores são aliados do prefeito, e ele faz esse jogo político para manter esse acordo, que na verdade eles não estão a favor do povo, e sim a favor do prefeito

Foram divulgados os gastos e arrecadações de campanhas e a sua tem lá valor zero. Como a senhora faz para administrar sua campanha?

Nós passamos a primeira etapa da campanha atropelados pela ditadura do tribunal. Eles criam dificuldade. Não é uma eleição livre. Além de você não ter recurso, você não tem os mesmos espaços na TV, você não tem as assessorias, e nós estamos nessas eleições remando contra a maré. E até lá, nós ficamos nesse corre-corre com o tribunal nessa ditadura contra o tribunal. Porque o papel do tribunal não é criar normas. Nós brasileiros, para participarmos da eleição, diz na constituição, tem que ter maioridade, ser filiado a partido, ser brasileiro, e outros itens, e o que acontece é que a cada dia, o TSE cria normas, regras, leis, e não é função dele, quem tem que fazer lei é o parlamento. E essa é uma grande dificuldade. E nós achamos que a eleição deveria ser um espaço livre democrático, como eles chamam “show de democracia”. Coisa nenhuma, é muita dificuldade! E nós ainda temos que cumprir a exigência de contratar contador e advogado. Porque é uma armadilha que as nossas contas, mesmo tentando cumprir as normas, a gente sabe que não vai cumprir, porque não dá praa cumprir todas as normas.

Fonte: Roberto Araujo e Cintia Lucas e Paulo Pincel

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